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Começando a investir de maneira inteligente - Parte 2: Tesouro Direto

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A ideia dessa série de artigos é apresentar uma abordagem para as pessoas que não sabem como começar a investir além da poupança e querem se tornar pequenos e inteligentes investidores. Ela visa o mínimo de taxas, diversificação de investimento e ganhos acima da inflação.

O roteiro é simples:

  • Leia Crash. Uma Breve História da Economia e Sonho Grande;
  • Tenha uma conta corrente digital;
  • Abra uma conta na Easynvest e invista sem pagar taxa de administração no Tesouro Direto, alocando a maior parte do seu dinheiro no Tesouro Selic (LFT);
  • Abra uma conta na Rico.com.vc e realize o Investimento Programado a partir de R$ 100 em ações de empresas boas (eu invisto em 20 empresas que apresentam lucros consistentes, entre elas Ambev e Cielo), evitando taxa de custódia e pagando uma taxa de corretagem ínfima;
  • Tenha uma planilha de gastos, realize o balanceamento da sua carteira de investimentos e pague tudo que conseguir no cartão de crédito. Recomendo o cartão Nubank se não quiser pagar taxas e anuidade ou Credicard Exclusive se preferir acumular pontos.

Esse conteúdo será dividido em quatro partes:

  1. Conta Corrente e Corretoras
  2. Tesouro Direto
  3. Ações
  4. Planejamento Financeiro

Na primeira parte estudamos os requisitos para começar a investir de maneira inteligente. Nessa segunda parte vamos conhecer o Tesouro Direto, o investimento mais seguro no Brasil e que pode trazer retornos bem maiores que a poupança.

Tesouro Direto

O Tesouro Direto é um programa do Governo Brasileiro, em parceria com a BM&FBovespa (por isso a necessidade de uma corretora de valores), que facilita a compra de títulos públicos federais por pessoas físicas, através da internet. Você literalmente empresta dinheiro para o governo, para receber juros quando o dinheiro for devolvido.

Esse é um ativo considerado de Renda Fixa, pois no momento da compra do título, o comprador pactua com o Governo Federal quanto irá receber no momento da venda do título, ao contrário de Ações, como veremos à frente, que são considerados ativos de Renda Variável. Assim, o Tesouro Direto é uma modalidade conservadora, sendo uma ótima alternativa à poupança e excelente primeiro passo para quem ainda não investe.

Além disso, é considerado o investimento mais seguro do Brasil (mais do que a poupança), pois é 100% garantido pelo Tesouro Nacional. Na verdade, grandes bancos e seguradoras pegam o dinheiro de títulos de capitalização e fundos e investem exatamente em título públicos. Como mencionei anteriormente, mesmo que sua corretora quebre, seu dinheiro estará seguro, pois ela terá sido somente uma intermediária no processo de compra. Por fim, é possível investir no Tesouro Direto com valores a partir de R$ 30, acessível para investidores de qualquer porte.

Antes de estudarmos os títulos, vale a pena relembrar duas siglas (que você estudou no livro Crash):

  • IPCA: é o indicador oficial do Governo para a inflação, ou seja, o quanto seu custo de vida aumentou nos últimos 12 meses. Em março de 2015 essa taxa estava em 8,13%;
  • SELIC: é a taxa básica de juros da economia, que dita quais serão as taxas de juros cobradas a você, consumidor e investidor pessoa física.

Uma manobra comumente empregada pelo Governo é a de aumentar a taxa de juros Selic para frear o avanço da inflação (IPCA).

Vamos lá, existem três grande tipos de títulos do Tesouro Direto:

Nome Modalidade Taxa Nome antigo
Tesouro Prefixado Prefixado Pactuada LTN
Tesouro IPCA+ Pós-fixado IPCA + Pactuada NTN-B Principal
Tesouro Selic Pós-fixado Selic LFT

O Tesouro Prefixado (LTN), como o próprio nome diz, é um título onde a rentabilidade é definida no momento da compra. Na data da elaboração desse guia, existia um título Tesouro Prefixado com rentabilidade de 13,21% a.a. e vencimento em 2018. Vale ressaltar que essa rentabilidade é nominal, ou seja, não é descontada da inflação.

Já o Tesouro IPCA+ (NTN-B Principal) protege o investidor da inflação e pactua, no momento da compra, qual será sua rentabilidade real. Na data de elaboração desse guia, estava sendo ofertado um título Tesouro IPCA+ com rentabilidade de 6,28% a.a. e vencimento em 2024. Inicialmente, nota-se uma diferença grande na rentabilidade dos títulos, mas aqui, a rentabilidade é real ao contrário da nominal anterior. Dessa maneira, no vencimento do título, sua rentabilidade será composta pelos 6,28% pactuados somados à variação da inflação (IPCA) no período que esteve de posse do título.

Por fim, o Tesouro Selic (LFT) é o título que é totalmente pós-fixado, a rentabilidade definida no momento da compra é 0% a.a.. Ou seja, você não sabe qual será sua rentabilidade no momento da compra, isso porque ele irá render, de maneira nominal, a taxa Selic média do período que seu dinheiro ficou investido. Quando eu escrevia essa guia, a taxa Selic estava em 13,25% a.a. - imaginando que ela permanecesse assim pelo próximo mês, na compra de um título hoje e venda daqui um mês, eu teria um rendimento bruto nominal de pouco mais de 1%.

Um ponto importante é que as taxas definidas na compra dos títulos, só serão honradas caso o título seja vendido no seu vencimento. E quem compra os títulos, antes ou depois do vencimento? O próprio Tesouro Nacional! Ele compra os títulos de volta todos os dias, portanto a liquidez dos títulos do Tesouro Direto é diária.

O fato de o Tesouro Selic (LFT) ser totalmente pós-fixado (taxa de rentabilidade de 0% no momento da compra), lhe confere uma vantagem interessante: por acompanhar a taxa de juros, sem nenhuma parte pré-fixada, não há como o mercado especular sobre esse título.

Por outro lado, nos outros dois títulos, o governo tem que definir a parte prefixada num patamar que atraia gente querendo emprestar dinheiro para o governo. Numa situação hipotética, caso há seis meses a inflação estivesse a 1% o governo poderia definir um título Tesouro Prefixado (com vencimento daqui cinco anos) com rentabilidade de 7%. Mas se hoje a inflação estivesse num patamar de 6%, a antiga taxa de 7% do título provavelmente não atrairia ninguém (a rentabilidade real seria de cerca de 1%), portanto o mesmo título teria que ser vendido com uma taxa pactuada de 12%. Como resultado, aqueles que compraram há seis meses o mesmo título com taxa de 7% a.a. não conseguiriam vender esse título hoje, antes do seu vencimento, pelo preço que pagaram (o governo está vendendo o mesmo título com uma rentabilidade maior) - o investidor estaria provavelmente perdendo dinheiro com o Tesouro Direto por não ter aguardado o vencimento do título.

Portanto, é recomendado para o pequeno investidor, que está iniciando agora, que aloque a maior parte dos seus recursos no Tesouro Selic (LFT). Assim, caso precise recuperar seu dinheiro antes do vencimento, sempre terá ganhos, assimilando-se à poupança.

Ainda assim, é importante que o investidor tenha recursos nas outras modalidades, efetivamente diversificando seus investimentos e protegendo-se contra riscos, afinal, são indicadores de mercado como taxa de juros básica e inflação que determinam os ganhos através do Tesouro Direto. Ao investir no Tesouro IPCA+, protege-se o patrimônio da inflação; ao investir no Tesouro Prefixado, garante-se ganhos substanciais caso a taxa de juros seja reduzida.

Vale a pena ressaltar, ainda, que existem outros dois tipos de título que pagam os rendimentos de maneira semestral, ao contrário de somente no vencimento. Eles são o Tesouro Prefixado com Juros Semestrais (NTN-F) e o Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais (NTN-B). Não irei me aprofundar neles, pois são direcionados para as pessoas que já possuem um uma quantia maior para investir e/ou querem viver da renda dos juros (aposentadoria, por exemplo).

Finalmente, quando estávamos falando de rentabilidade e venda dos títulos, não descontamos dois importantes fatores para chegarmos a rentabilidade líquida: imposto de renda e taxas.

Há incidência de imposto de renda, que é retido na fonte no momento da venda, sobre os rendimentos no Tesouro Direto, e ele acompanha uma tabela regressiva:

Prazo Tributação
Até 180 dias 22,5%
181 dias até 360 dias 20%
361 dias até 720 dias 17,5%
Acima de 720 dias 15%

Dessa maneira, é mais vantajoso permanecer com os títulos por no mínimo dois anos. Há também cobrança de duas taxas. A primeira não dá para escapar, a taxa de custódia da BM&FBOVESPA de 0,30% a.a., que fornece os serviços digitais que facilitam a compra dos títulos por investidores pessoa física. A segunda é a taxa de administração do agente de custódia, a instituição financeira por onde você compra e vende títulos. Para a economia do pequeno investidor inteligente, existem boas corretoras independentes que não cobram essa taxa. Na tabela do site do Tesouro, encontramos as corretoras que não cobram a taxa e também os grandes bancos:

Banco Taxa de Administração
Easynvest 0,00%
Rico.com.vc 0,10%
Caixa 0,40%
Santander 0,40%
HSBC 0,40%
Itaú 0,45%
Banco do Brasil 0,50%
Bradesco 0,50%

Eu invisto no Tesouro Direto através da Easynvest e faço essa recomendação por ela ter um processo de abertura de conta simples, um site fácil de usar, não cobrar taxa de administração, repassar os recursos de venda do tesouro no mesmo dia, ser uma corretora que existe há quase meio século e uma das pioneiras no meio digital. É importante ressaltar que, em linhas gerais, essas duas taxas são cobradas nos primeiros dias úteis de janeiro e julho de cada ano, portanto faça o valor correspondente disponível na conta corrente da sua corretora nessas datas.

O processo de compra é bem simples. Basta entrar na seção de Tesouro Direto/Títulos Públicos no site da corretora e conferir a tabela com os títulos à venda. Em 04/05/2015 eu encontrei:

Ativo Vencimento Indexador Taxa de Juros Preço
Tesouro IPCA+ 2019 15/09/2015 IPCA 6,67% R$ 2025,85
Tesouro IPCA+ 2024 15/08/2024 IPCA 6,28% R$ 1493,88
Tesouro IPCA+ 2035 15/05/2035 IPCA 6,09% R$ 806,34
Tesouro Prefixado 2018 01/01/2018 prefixado 13,21% R$ 719,71
Tesouro Prefixado 2021 01/01/2021 prefixado 12,82% R$ 506,28
Tesouro Selic 2021 01/03/2021 SELIC 0,00% R$ 6792,17

O preço informado é de uma unidade do título, mas é possível comprar até 0,01 parte de um título, respeitando o valor mínimo de R$ 30. Imaginando um montante de R$ 1000 disponíveis para investir em Tesouro Direto, uma divisão possível seria:

  • 50% no Tesouro Selic 2021 - 0,07 títulos, totalizando R$ 475,46
  • 25% no Tesouro IPCA+ 2024 - 0,16 títulos, totalizando R$ 239,02
  • 25% no Tesouro Prefixado 2018 - 0,34 títulos, totalizando R$ 244,70
  • Investimento total: R$ 959,18

Com esse planejamento feito, a próxima etapa é transferir o valor total da sua conta-corrente comum para a conta corrente da corretora. Vale a pena transferir um pouco mais - 2%, por exemplo - evitando que uma pequena flutuação nos preços dos títulos impeça a compra. Com o dinheiro na conta da corretora, o passo final é comprar os títulos.

Após o envio da ordem de compra, é necessário aguardar o processo de liquidação que leva três dias. Ao final, você poderá conferir seu extrato do Tesouro no site da corretora. Para garantir que seu dinheiro realmente foi investido, recomendo conferir o extrato também no Portal do Investidor do Tesouro Direto.

Vale ressaltar que a alocação acima é para efeito de ilustração - cada um deve estudar e definir por conta própria como investir seu dinheiro. Se há chance de você precisar do seu dinheiro numa situação de emergência (filhos, saúde, etc), direcione a maior parte para o Tesouro Selic. Se você não vê no horizonte de curto prazo a necessidade de utilizar todas suas reservas, aloque a maior parte no Tesouro IPCA+. Por fim, a maior parte das informações que eu apresentei aqui pode ser encontrada no próprio site do Tesouro Direto.

Vamos bater um papo?

Há cerca de dois anos, comecei a procurar informações de como investir melhor meu dinheiro, assim como você. Estudei bastante: opções de investimento, relatos, taxas, rentabilidade, bancos, corretoras e etc.. Hoje, fico feliz em poder ajudar meus amigos a construir um planejamento financeiro, poupar mais e investir melhor.

Infelizmente, pouca gente investe de maneira inteligente e, principalmente, consciente. À outra parte da população, resta seguir as recomendações de seus gerentes, que trabalham para grandes bancos, portanto, mais interessados nos próprios lucros. O material disponível na internet geralmente é escasso, desatualizado ou fragmentado.

Ainda estou aprendendo muito e minha ideia com essa serie de artigos é compilar e divulgar minha jornada. Se você ficou com dúvidas, quer entender melhor um ponto ou bater um papo sobre uma situação específica, me manda um email e vamos aprender juntos!